segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Embate chocante


Só mesmo nesta cidade poderia ver o que vi. Os envolvidos, porém, não viram... porque eram cegos.

Ia no metro, onde ia também um senhor cego. Quando chegámos à estação em que eu pretendia sair, verifiquei que o senhor iria sair também. Sem grandes problemas, o cego abriu a porta do metro e deu o primeiro passo para o exterior.

E chocou de frente com uma senhora, também cega! Valha-me Deus, como diria o meu avô... é tal a improbabilidade de se ver isto na vida, que em vez de reagir, sorri. E a restante gente, nem isso fez.

Não se feriram, nem caíram. Devem apenas ter ficado a pensar quem seria aquele outro ser desagradável que nem se afastava para deixar passar um cego. E eu fiquei a pensar como é chocante o embate quando nem se sabe por quem fomos atingidos...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

¡Ojo!

 atenção! Se queremos que alguém perceba que um determinado ponto é importante e que há que evitar descurá-lo por qualquer motivo, dizemos ¡Ojo! Que en este punto aquí hay que mirarlo bien...yadayada tchinpun y lo que venga...



Mas não é por esse motivo que vem esta publicação (hã, viram... consegui evitar o anglófono "post").
O motivo porque escrevo este trecho de texto (uff, safei-me outra vez) é o facto de estar abismado com o número gigantesco de espanhóis de olho claro (até me pergunto se o Franco também fez limpeza racial por aqui...).

Dou dois exemplos:

1) no meu "despacho" (o maldito do gabinete) os meus olhos castanhos representan apenas 33%, contra 66% de olhos cinzentos... ok, eu dou um exemplo melhor!

2) hoje no metro fiz uma pequena "avaliação de mercado"... do universo de 10 pessoas não portuguesas mais próximas (e que tudo indicava serem espanhóis!) apenas 3 tinham olhos castanhos. 30%!!! Vai contra tudo o que eu pensava. Sempre achei que não só os povos do sul da Europa eram de olho castanho, como também que o olho castanho prevalecia sobre o claro (azul, verde e milhares de cinzentos). Enganei-me?...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Karma

Karma... Karma é trabalhar em Espanha no dia que em Portugal se celebra a Restauração da Independência de 1640. Afinal ganharam eles...


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Estanco


Isto aconteceu no início de Outubro, quando cheguei aqui. Precisava de comprar o passe para o metro, e perguntei onde o podia arranjar.

- Isso é fácil, vais a um estanco...
- Um estanco?? - O que raio é um estanco, pensei para mim, não querendo parecer o absoluto ignorante que nessa altura já sabia ser.
 - Sim, onde vendem tabaco. Há uma data deles aí pelas ruas, uns quiosques castanhos.
 - Uma tabacaria!

Chamam-lhe estanco... embora oficialmente sejam "expendedurías de tabacos". Porquê? Não juro, não garanto, mas tenho uma teoria. Em Espanha, estanco significa um monopólio. Ora, os ditos estancos são atribuídos pelo estado, que é o detentor do monopólio dos centros de distribuição de tabaco. Parece-me razão suficiente...

Descobri também que os estancos fecham das 14 às 17, como as restantes lojas, pelo que não convém ao fumador ficar sem tabaco nessa hora. Fecham mesmo!

Mas digam-me lá se não são doidos, os olés? Era muito mais fácil dizer tabacaria...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Deolinda no Circulo de Bellas Artes de Madrid


O 'tuga na estranja tem que gostar da música nacional. O meu defeito será talvez que já gostasse antes...

Ontem fui assistir ao concerto dos Deolinda no Circulo de Bellas Artes de Madrid. Em português ou em espanhol, fenomenal!!! A presença, o à vontade e principalmente a voz de Ana Bacalhau fazem muito pelo concerto. O talento inolvidável dos restantes elementos da banda, agrega todas as pontas soltas de um som que tem tanto de tantas partes diferentes do mundo e torna-o único. É fado sem o ser, não é pop já o sendo.

A vocalista conta a história de cada música antes de a cantar, e fê-lo no seu assumido portunhol tentado. Ana Bacalhau conseguiu por os espanhóis presentes a gritar a plenos pulmões "vão sem mim que eu vou lá ter", após ter pedido aos portugueses presentes que o fizessem virados para os espanhóis a seu lado. E assim foi o Movimento Perpétuo Associativo dos Deolinda...

Sem dúvida, o concerto valeu bem mais que os €10,00 que custou a entrada. Eu já os conhecia, mas pude comprovar... são excelentes.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Jantar fora 22/11/2009

Pois ontem jantei fora... podem ver abaixo a sala do restaurante. O restaurante chama-se La Gloria de Montera. E aqui está o tema deste post. O fabuloso restaurante ao melhor estilo new yorker situa-se na Calle Montera, que para quem não sabe é uma rua conhecida pela prostituição feminina. Mas numa zona de fácil acesso por metro (estação de Gran Vía).



Em Portugal, não creio que fosse fácil a sobrevivência de um restaurante deste tipo numa zona destas, mas aqui em Madrid, o restaurante estava cheio de casais, de grupos de amigas e amigos, sem dramas.

Come-se muito bem, posso recomendar o Crujiente de Ternera. Estava maravilhoso. O preço? Muitissimo barato. Prato, sobremesa (profiteroles) e vinho por €16,80. Foi uma pechincha, dada a qualidade. O prato apenas custava menos de €8,00. Não aceitam reservas, convém chegar cedo.

Pelo que me dizem, este restaurante faz parte de uma cadeia catalã que possui pelo menos mais um restaurante em Madrid, que quero experimentar em breve. Depois critico...

Plátano




O que é um Plátano? Em Portugal, todos sabemos! Uma árvore, frequentemente usada em passeios e jardins, que dá boa sombra e é muito bonita, cuja folha tem um formato característico e surge na bandeira do Canadá.



E em Espanha? Sim, quase todos nós sabemos que um plátano em Espanha é uma banana. O que eu não sabia é que também a bananeira é plátano, e o próprio plátano é plátano. Confuso? Eu explico. Os olés chamam plátano a duas árvores diferentes e à banana. 


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Trozo

Cheguei à conclusão que a minha mãe deve ser meia espanhola... (oh Mãe, desculpa... eu já explico).

A minha mãe sempre disse "um troço" para dizer "uma coisa" (bem, também diz trecos e bagulhos, mas isso agora não interessa nada).

Os nossos queridos olés dizem "un trozo" para dizer "um bocado", ou "uma fatia".

E o facto é que ontem, que comi pizza ao jantar, me apercebi do quanto acho ridículo chegar ao balcão (que para eles é "barra") e pedir "un trozo" de pizza.

É que un trozo de pizza é como se a pizza tivesse um troço, isto é, uma coisa, lá dentro. Tipo a fava do bolo rei. Assustador!!!
Fico é contente que a minha mãe, sem ter aulas de espanhol tenha vinte no módulo "Como pedir pizza na Espanha".

Reunión




Tal como os portugas, os espanhóis vivem obcecados com as reuniões. Juntam-se para debater tudo, a toda a hora e chegam ao ponto de convocar reuniões com dois minutos de antecedência. Tal como nós. Eles gostam... e nem bocejam!







O que me deixou boquiaberto hoje foi que apesar desta facilidade para convocar as reuniões, a logística tem muito que se lhe diga... ou pelo menos nesta companhia. Bem, mas o caso foi o seguinte: havia falta de cadeiras para toda a gente, porque convocaram 15 mas foram 20 à reunião. Saímos da sala de reunião em busca de mais cadeiras, mas não havia. Pedimos ao "contínuo" de serviço que verificasse se havia mais noutro lado. Espantei-me quando me disse que tinha que enviar um e-mail para a gestão patrimonial a pedir 5 cadeiras.

- Agora? - perguntei eu.
- Já! - disse-me o dito contínuo - Para ver se têm as cadeiras daqui a 10 minutos.

E fiquei a pensar... isto em Portugal, nem haveria contínuo... íamos a outra sala e tirávamos as que houvesse. Mas aqui não há o desenrascanço... essa palavra que até os americanos entendem que faz falta no seu dicionário.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Mono


O tema do Mono é interessante. Aqui os nossos vizinhos chamam Monos aos macacos. Os mesmos vizinhos chamam monos aos bonecos (por exemplo, monos animados). Mas o drama é que chamam às crianças bonitas boneco, isto é, mono. Eu explico: quando vêem uma criança linda dizem "¡¡ay... Qué mono!!
Quanto a vocês não sei... mas para mim isto aproxima-se muito de chamar macacos às criancinhas, ¿ no?

Merceria


Pois é... com esta fiquei duplamente surpreendido. Primeiro porque a filhota diz frequentemente "Pai... Quero brincar às mercerias" ao que geralmente acedemos, sabendo que quer dizer "às mercearias".

Imaginem o meu espanto ao dar de caras com uma verdadeira merceria. E na altura nem me apercebi bem... porque a vi de longe. Essa foi a primeira surpresa, saber que as mercerias existiam... (será que a piolha veio com o chip espanhol??)

Mas quando vi uma de perto pela primeira vez, tive a segunda surpresa. E como é típico em mim, desatei a rir e ninguém à minha volta conseguia perceber porquê! Mas eu tinha razão. É que se repararem bem no exemplo desta foto, afinal a malfadada merceria não é mais que uma retrosaria.

Em conclusão: um português a viver em Madrid tem todos os dias um pouco de Telejornal dos anos 80... é como dizia o Peça... E esta, hem?
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23-11-2009
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edito o post para acrescentar, fruto de conversa posterior: em Portugal usava-se (creio que ainda se usa) algodão mercerizado, que se compra em retrosarias. Todos se lembram das avós ou mães a utilizar estes novelos da âncora. Tricota daqui, renda dali, e mais uma peça do quebra-cabeças (ou à espanhola, rompe cabezas). Aqui se encontra o elo perdido entre as duas línguas no que respeita ao tema da merceria.

O ciclo finito

Esta não é minha, mas de um amigo espanhol que esteve a trabalhar comigo. Chamo-lhe o ciclo finito de Frutos, porque é o nome dele e porque o ciclo não fecha, a não ser que o espanhol para secretária seja cubierto... e não é! As diferenças da língua são muito mais presentes do que se pensa:

ESPANHOL - PORTUGUÊS
cubierto - talher
taller - oficina
oficina - escritório
escritorio - secretária

Castellana


As torres da Castellana. A primeira coisa que vejo quando saio do trabalho. Não nesta perspectiva, mas pelo lado oposto. As torres já estão completas e a foto não é minha. Madrid é bonita, sem dúvida. Passo a maior parte do dia aqui ao pé. Mas é à noite, quando saio, que se vêem as torres iluminadas. Para quem gosta de arquitectura, como eu, é lindo! O que custa depois disto é ir para o metro.

sábado, 3 de outubro de 2009

Lámpara e Bombilla

Olé... como é confusa esta gente. Começo a sofrer os efeitos de um vocabulário limitado. Hoje foi o caso da Lámpara. E se bem o digo, melhor é que o conte... resolvi comprar um candeeiro aqui para o "apertamento" mas logo me pus a pensar que não seria de todo descabido que tal palavra tivesse um correspondente arrevezado do tipo "candelabro" ou mesmo "candelaria"... pois é! Também eu me assustei quando recorri à mãe de todas as fomes de informação, a dita net, e me surge no tradutor lámpara. É um erro, pensei eu, que este tradutor online é um tradutor de &$§!£. Só que não era... o segundo tradutor e o terceiro diziam o mesmo... e eu pasmado! Mais o fiquei quando aprendi que a lâmpada com D portuguesa se traduzia para bombilla. Bombilla?!!! - disse eu. Bombilla, sim senhor! E no fim de contas, quando cheguei à loja onde ia comprar as malditas lámpara e bombilla que tinha visto, o raio da loja estava fechada... E ainda não eram 20h. Não percebo de todo os horários do comércio de Madrid...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Babor e Estribor

Como é louca esta gente... pegaram na palavra perfeita e esfrangalharam-na completamente. O bom bordo, que é o lado esquerdo, porque os portugueses, que criaram a dita palavra, navegaram para durante muito tempo para sul, com a terra sempre do lado esquerdo. Podiam não a ver mas sabiam que lá estava, logo este era o lado bom. Daí bombordo. Agora o que não se entende é babor, que soa a pneu chinês de contrafacção. Da mesma forma transformaram estibordo em estribordo. Iam a cavalo, estes? porque se tinha estribos, ou era cavalo ou tinham um problema nos ouvidos!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Início

Afinal também acabei enredado na diáspora. Que raio de povo é este, o português, que acaba sempre por ir parar sabe-se lá onde. Levanta-se uma pedra no Kalahari e encontra-se o tuga, sobe-se a uma palmeira no Sahara e vê-se um jipe com tugas lá dentro, escava-se um buraco na Amazónia e lá estava já um tuga a escavar. E foi por isso que o diabo da vida me tirou ao feliz rame-rame casa-fábrica e me pôs no desemprego, só para encontrar um emprego em Espanha e longe da família. Quase que não vim, com a pirralha agarrada a mim como uma lapa e a dizer entre choros "Não vás, papá!". Quem não sabe o que é isto é um sortudo, quem não precisa de partir o coração da própria filha, para garantir que tem emprego nos próximos anos. Em suma, sou desterrado e estou de rastos. Acordei hoje como um desses portugueses que a cada geração têm que emigrar para sobreviver, e não vivem porra nenhuma.